quarta-feira, 5 de maio de 2010

Os 3 poderes LGBT



Unidos, podemos muito e nos tornamos fortes! Separados, somos apenas um voz solitária perdida na multidão e podemos cair na armadilha de servirmos apenas como massa de manobra. Todos os brasileiros possuem liberdade para mobilização, o poder de escolha - como a escolha dos candidatos nas eleições, por exemplo - e também, em maior ou menor nível, possuímos poder de compra. Penso que a maioria das pessoas têm consciência disso, mas nem sempre fazem uso desses que aqui denominarei de “3 poderes”. No caso das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), o uso desses “3 poderes” são importantíssimos, afinal, temos em torno de 78 direitos negados pelo Estado e lutamos por essa equidade. Penso que os LGBT precisam se conscientizar a respeito desses “3 poderes” e usá-los em seu favor. A conscientização e o uso desses “poderes”, principalmente no caso dos LGBT, servirá como importante instrumento na luta pela conquista de uma verdadeira cidadania para essa parcela da população historicamente marginalizada pelo Estado no que se refere aos seus direitos. Abaixo exemplificarei a respeito desses “3 poderes”:



O PODER DA MOBILIZAÇÃO
Um bom exemplo de mobilização do Movimento LGBT brasileiro é a Campanha Não Homofobia, organizada pelo Grupo arco-Íris de Cidadania LGBT que tem como objetivo principal pressionar os deputados em relação à aprovação do Projeto de Lei da Câmara/PLC122/2006 que tornaria crime a homofobia. Infelizmente, mesmo sendo feita pela internet, o que possibilita atingir todo o território nacional, a Campanha Não Homofobia só arrecadou até esse momento pouco mais de 70 mil assinaturas. Enquanto o PLC122 não é aprovado a violência homofóbica continua fazendo suas vítimas. Em sua pesquisa feita anualmente, o Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgou que cerca de 200 LGBT foram assassinados no Brasil em 2009.
Outra mobilização de um passado não muito distante aconteceu por parte do Movimento Negro que pressionou para que o racismo fosse criminalizado no Brasil.
Movimento também vitorioso aconteceu por parte da novelista Glória Perez quando da morte de sua filha Daniela. Glória liderou campanha com um abaixo-assinado com o intuito de conseguir incluir o homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos. Ela precisaria recolher 900 mil assinaturas para que esse abaixo-assinado se transformasse num projeto de iniciativa popular, mas a novelista conseguiu 1,3 milhão. Recentemente a sentença do casal Nardoni foi amparada por essa mudança na lei que aconteceu pela mobilização da novelista que obteve grande apoio por parte da população na época.
Outro exemplo de mobilização foi a pressão do Movimento Feminista pela aprovação da lei Maria da Penha que garantiu mecanismos de defesa mais abrangentes para mulheres vítimas de violência doméstica.




O PODER DE COMPRA
Sabemos que existe uma boa parcela do mercado que trabalha para o público LGBT, por exemplo, podemos citar os estabelecimentos denominados Gay Friendly. Confesso que não me agrado dessa perspectiva mercadológica que quer transformar a cidadania LGBT em produto, afinal, sabemos que cidadania não pode ser transformada num produto onde só os mais abastados podem comprar, e os menos favorecidos ficam de fora. Mas não podemos negar que independente do poder aquisitivo, os LGBT também são consumidores e isso pode ser percebido claramente pelo interesse do mercado em nosso poder de compra, o chamado pink money.
Um exemplo que pode ser citado foi o caso do salgadinho Doritos da Elma Chips que veiculava dois comerciais homofóbicos. Num deles um rapaz aparecia cantando e fazendo a coreografia da música “YMCA” e no outro um rapaz cantava “Like a Virgin” e recebia olhares de reprovação de seus amigos. Logo em seguida, os rapazes dançarinos/cantores levavam uma “bordoada na cara” com o saquinho do salgadinho seguida da frase: “Quer dividir algo? Divida um Doritos!”. As músicas consideradas hinos gays não foram escolhidas por acaso, mas com intuito de passar a ideia de que o rapaz era gay e que não devia compartilhar isso com ninguém. A comunidade gay denunciou a peça junto ao Conselho Nacional de Autorregulametação Publicitária (CONAR), muitos enviaram e-mails para o SAC da empresa reclamando da propaganda e anunciando um boicote aos produtos da marca. A repercussão foi tanta que fez com que empresa não mais veiculasse os comerciais. Outro recente anúncio de boicote aconteceu com os produtos que patrocinavam o Big Brother Brasil por causa do preconceito de um de seus participantes com os gays. Todos nós sabemos que as empresas não querem ver seus produtos associados com imagens negativas, por isso, o boicote e a reclamação dos consumidores junto às empresas pode fazer muita diferença nesses casos.




O PODER DO VOTO
Na hora do voto, os homossexuais precisam se informar a respeito das propostas dos candidatos voltadas para a causa LGBT ou de sua posição a respeito delas. É preciso se informar sobre o histórico do candidato em relação a sua atuação em prol dos nossos direitos antes de decidirmos apoiá-lo. É preciso dar importância e valorizar o seu voto para não correr o risco de eleger um político homofóbico ( ou um gay com homofobia internalizada) que no futuro poderá votar contra as propostas que nos favoreçam e atravancar ainda mais a conquista dos direitos que nos são negados. Se o candidato não for assumidamente gay, no mínimo precisa ser aliado da causa LGBT e ter demonstrado isso em ações anteriores ou em promessas futuras. Promessas às quais devem ser cobradas por cada eleitor em particular e pelo Movimento LGBT caso esse candidato seja eleito. Aquela velha história que diz “gay não vota em gay” precisa ser mudada. Precisamos eleger nossos próprios representantes para que não sejamos eternos dependentes de candidatos simpatizantes que defendem outros interesses e que não têm a nossa causa como foco de sua luta. Precisamos ter em mente que homofóbicos votam em seus representantes: religiosos homofóbicos elegem religiosos homofóbicos. E nessa história de “gay que não vota em gay” quem acaba não tendo representantividade nas instâncias de poder são os LGBT. E a conseqüência dessa falta de representatividade resulta no enfraquecimento da nossa causa e consequentemente dificulta a conquista dos nossos direitos.


Ao contrário do que alega os homofóbicos, a luta do Movimento LGBT não fere o direito adquirido de ninguém. Não queremos privilégios. Não queremos nem mais, nem menos, apenas reivindicamos os direitos que nos são negados pelo Estado e lutamos pela equidade dos mesmos.
Se todos unissem nessa luta, conseguiríamos pressionar nossos representantes na Câmara dos Deputados para aprovarem o PLC 122/2006 e outros tantos requerimentos em nosso favor que tramitam nas casas legislativas brasileiras, mas que enfrentam oposição de deputados e senadores religiosos preconceituosos que querem legislar como se vivessem em um estado teocrático.


Acredito que se todas as Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais se conscientizassem e fizessem uso desses “3 poderes”, com certeza muitas de nossas reivindicações se transformariam em realidade. Se nós LGBT, soubessemos valorizar e usar esses nossos “3 poderes”: o de mobilização, de compra e de voto em prol da nossa causa, com certeza passaríamos de meros coadjuvantes à personagens principais no que se refere à conquista da nossa verdadeira cidadania. Além de passarmos a ser respeitados como seres humanos, consumidores exigentes e eleitores conscientes. O chamado está feito!


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