domingo, 2 de maio de 2010

O casamento entre a religião e o regime homofóbico de Uganda


O casamento entre a religião e o regime homofóbico de Uganda

A lei defendida pela corrente política ultradireitista homofóbica africana

Uma lei em discussão no Parlamento de Uganda prevê prisão e até pena de morte para homossexuais. E essa não é a única lei a respeito da questão que está sendo discutida no país africano. O que está em discusão no parlamento de Uganda é uma nova lei que prevê a criminalização da homossexualidade. A lei prevê sentença de prisão perpétua para os acusados de terem uma relação homossexual, e de pena de morte para quem reincidir nesse "crime". As punições não param por aí: entidades que trabalham para diminuir o contágio por HIV estarão passíveis de ser condenadas a até 7 anos de prisão por "promoção da homossexualidade". Também serão condenados a até 3 anos de prisão àqueles que “deixarem de avisar as autoridades da existência de atividades homossexuais dentro de 24 horas”.

O principal argumento dos defensores dessa lei, a corrente política ultradireita homofóbica do país, é a defesa da cultura nacional. No entanto, uma parte do povo ugandense esta contra essa lei. Até mesmo a Igreja Anglicana já se posicionou de forma contrária à sua aprovação.

O estopim que gerou a criação da lei homofóbica em Uganda

Em março de 2009, três cristãos evangélicos norte-americanos, cujos ensinamentos sobre a "cura" da homossexualidade, amplamente desacreditados nos Estados Unidos, chegaram a Kampala, a capital de Uganda, para uma série de palestras. O tema do evento, de acordo com Stephen Langa, seu organizador ucraniano, era "a agenda gay - aquela agenda obscura e sinistra" -, e a ameaça que os homossexuais representam para os valores dispostos na Bíblia e a família tradicional africana. Por três dias, de acordo com participantes e gravações, milhares de ugandenses, entre os quais policiais, professores e políticos de projeção nacional, ouviram atentamente as palestras dos norte-americanos, apresentados como "especialistas" em homossexualidade. Os visitantes discutiram sobre como fazer com que homossexuais se tornassem heterossexuais, sobre a sodomização de garotos adolescentes por homossexuais, e sobre como "o movimento gay é uma instituição malévola", cujo objetivo é "destruir uma sociedade cuja base é o casamento e substituí-la por uma cultura de promiscuidade sexual".

A repercussão em Uganda das palestras dos evangélicos norte-americanos

Foto: Marc Hofer from The New Times
Um mês após a conferência, um político ugandense até então desconhecido que se gaba de ter amigos evangélicos no governo dos Estados Unidos apresentou um projeto de lei de combate ao homossexualidade que ameaça os gays de morte por enforcamento.

O ministro da Ética e Integridade de Uganda (que já havia ameaçado proibir minissaias) declarou recentemente que "os homossexuais podem se esquecer dos direitos humanos".
Agora, os três pregadores se viram colocados na defensiva, e alegam que não tinham a intenção de ajudar a promover a ira que pode conduzir ao que aconteceu em seguida: um projeto que prevê a imposição de pena de morte para casos de homossexualidade e, como resultado, colocou Uganda em rota de colisão com as nações ocidentais.

David Bahati - Político anti-gay

Defensores dos direitos humanos em Uganda afirmam que a visita dos três norte-americanos ajudou a colocar em ação um ciclo que pode se tornar muito perigoso. Os homossexuais de Uganda já estão descrevendo uma situação de constante chantagem, ameaças de morte como "morra, sodomita!" pichadas nas paredes de suas casas, constante perseguição, agressões físicas ocasionais e até mesmo casos do chamado "estupro corretivo".

Stosh Mugisha - Ativista dos direitos homossexuais

"Agora temos de realmente viver na clandestinidade", disse Stosh Mugisha, uma ativista dos direitos homossexuais que diz ter sido agarrada em um pomar de goiabas e estuprada por um lavrador que desejava curá-la de sua atração por mulheres. Ela diz que foi infectada por HIV, mas que a reação da avó dela ao caso foi simplesmente dizer: "Você é teimosa demais”.
A despeito de ataques como esses, muitos homens e mulheres homossexuais ugandenses disseram que as circunstâncias vinham melhorando antes do projeto, ao menos ao menos o bastante para que pudessem conceder entrevistas coletivas e defender publicamente os seus direitos. Agora, estão preocupados com a possibilidade de que o projeto encoraje linchamentos.
Multidões já espancaram até a morte pessoas apanhadas cometendo até mesmo pequenas infrações, como o roubo de um par de sapatos.

O reverendo Kapya Kaoma, de Zâmbia, que viveu seis meses na clandestinidade a fim de registrar o elo entre o movimento africano de combate ao homossexualidade e os evangélicos dos Estados Unidos, esteve na conferência e disse que os três norte-americanos "subestimaram a homofobia dos ugandenses", e "o que significa para os africanos quando se fala de determinado grupo como culpado de tentar destruir seus filhos e famílias”?. "Ao falar assim”, ele disse, "eles levam os africanos a lutar até a morte”.

"O que eles fizeram foi atear um incêndio que não poderá ser apagado”

Uganda é um país muito fértil,
majoritariamente rural, no qual grupos cristãos conservadores exercem imensa influência. Afinal, é esse o país em que há propostas de conceder bolsas de estudo a alunos que se mantenham virgens, canções sobre Jesus recebem os visitantes no aeroporto, adesivos nas portas do Legislativo que definem Uganda como abençoada e uma primeira dama evangélica que sugeriu um censo sobre virgindade como forma de combater a Aids.

Durante o governo Bush, funcionários da administração dos Estados Unidos elogiaram Uganda por suas políticas de defesa da família e investiram milhões de dólares em verbas de assistência para programas de abstinência sexual.

CLIMA DE MEDO: Frank, um militante de direitos humanos e contra a nova proposta de lei na Uganda, já recebeu ameaças e precisa proteger a sua identidade.

A ONG “AVAAZ” realizou uma petição que recolheu quase meio milhão de assinaturas, mostrando o repúdio internacional contra essa lei de Uganda que fere os Direitos Humanos.

Assine a petição contra a lei que prevê pena de morte para os homossexuais em Uganda

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