quarta-feira, 9 de março de 2011

A sociedade e o menosprezo ao feminino

Nível de qualidade de vida X igualdade/diferença de gênero

Nos últimos tempos é possível observar pelo país um recrudescimento da violência contra mulheres, travestis e gays. Recente pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo revelou que a cada dois minutos cinco mulheres são agredidas no Brasil. Penso que essa violência é resultado de uma sociedade machista/masculinista que adota e exalta um modelo sexista que menospreza e inferioriza tudo que possa ter qualquer ligação ao que se convencionou pertencer ao universo feminino. Seja na violência e o menosprezo contra a mulher, contra travestis, vistas como "falsas mulheres", ataques homofóbicos contra homens gays ou héteros que possuam características mais delicadas, o que está na origem dessa violência e do preconceito é o ódio e o menosprezo ao feminino e tudo que a ele esteja relacionado.  


Infelizmente ainda existe na sociedade uma excessiva valorização e exaltação de um modelo machista/masculinista que menospreza e inferioriza tudo que esteja ligado ao feminino, tanto nas mulheres como nos homens. Não são poucos os que denominam as travestis ou  mulheres transexuais *(MtF) como “falsas mulheres” e apelidam os homens, gays ou héteros, que possuam características mais delicadas de “mulherzinhas” que desonram o universo masculino. Para esses preconceituosos honradez consiste numa qualidade exclusivamente ligada ao gênero masculino e apenas homens heterossexuais - que não possuam qualquer característica mais delicada ou comportamento que seja considerado como pertencente ao universo feminino - são dignos dela. Na repetição e vivência desse pensamento de menosprezo ao feminino por parte considerável da sociedade podemos encontrar uma possível justificativa para os altos índices de violência contra mulheres, travestis, transexuais e gays.



No caso das travestis e transexuais, a violência contra esse segmento é bem corriqueira, principalmente contra aquelas que expulsas de casa e vítimas do preconceito extremo, tanto por parte da sociedade como do Estado, não permitiu que muitas delas conseguissem encontrar outro meio de sobrevivência que não nos subempregos ou na prostituição. Em relação aos homens, sejam eles gays ou héteros, aqueles que possuem características mais delicadas - que muitos denominam como “afeminados” – são os que mais se encontram expostos à violência que é um misto de aversão e ódio à fragilidade / feminilidade que esses homens mais delicados possam apresentar.  


Não se pode negar que gays sendo mais, menos, ou nada delicados, não deixam de ser alvo de homofobia, mas aqueles que “dão pinta” se tornam alvos fáceis dos ataques violentos. Homens, héteros ou gays, com características ou gestos mais delicados são vistos pelos adeptos do modelo machista/masculinista como aberrações e devem ser “corrigidas” na base da pancada – vide Jair Bolsonaro que chegou a afirmar que os gays devem ser “corrigidos” na base da pancada - ou extinguidos através dos ataques de ódio.  A violência e a morte são sentenças decretadas pelos seguidores do modelo machista/masculinista contra aqueles homens que são vistos como ameaça por ousarem transitar pelo universo feminino ou transgredirem os modelos e conceitos de masculinidade e feminilidade. 


Um estudo do Center for Partnership Studies chamado “Mulheres, Homens e a Qualidade Global de Vida” revelou que a qualidade de vida e o status da mulher na sociedade é um indicador melhor que o PIB da qualidade geral de vida da população. O estudo correlaciona maior nível educacional das mulheres, representação política, acesso a métodos contraceptivos, com um padrão de vida mais alto da sociedade como um todo:   expectativa de vida, saúde, educação, renda e preservação do meio ambiente. Portanto, a qualidade de vida de uma sociedade como um todo está diretamente ligada ao tratamento que é dado às suas mulheres e consequentemente isso se reflete claramente no tratamento que também é dispensado aos gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). Ver gráfico no início da postagemAfinal, uma sociedade que menospreza o feminino, inferioriza e é violenta com suas mulheres não costuma tratar de forma diferente os seus LGBT. Enfim, o menosprezo  ao feminino e a tudo que se considere pertencente a ele, além de coincidir com o aumento da violência contra as mulheres, travestis, gays ou héteros com características mais delicadas, também representa um claro sinal de que essa sociedade está caminhando num sentido contrário ao que permitiria o alcance de uma melhor qualidade de vida para todos. 

* MtF: sigla em inglês que significa Male to Female 


Fontes:
Estudo "Mulheres, Homens e a Qualidade Global de Vida" do Center for Partnership Studies

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