segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre patos e cisnes

O patinho feio



O “O patinho feio” é um dos famosos contos infantis do dinamarquês Hans Christian Andersen. Nesse conto, um patinho diferente é desprezado por sua mãe, seus irmãos e todos o acham feio quando na verdade ele era apenas diferente de todos os outros patos. Sempre visto pelo olhar do outro como feio, “estranho”, acabou internalizando a ideia que era uma aberração simplesmente por não ser como todos os outros patos.


O patinho passou por maus momentos por causa da sua não aceitação e até tentou se adequar ao modo de vida dos patos. Até sabia nadar como todos os outros e nadava com eles no mesmo lago, mas como era diferente não conseguiu se adaptar e ser aceito pelos patos e se viu infeliz e sozinho. Por muito tempo o patinho feio viveu isolado depois de ter sofrido rejeição por ser diferente de todos os outros patos.



Certo dia o patinho avistou um grupo de cisnes que voavam alto e experimentou um estranho sentimento de pertença àquele grupo, mas isso não podia ser, afinal era apenas um patinho feio e não poderia voar tão alto e nem poderia ser bem aceito naquele grupo de cisnes tão majestosos. Tamanha foi a sua surpresa quando os cisnes o acolheram bem. Feliz pela sua aceitação se viu refletido no espelho d’água do lago e naquele dia descobriu que não era um pato e sim um belo cisne como aqueles que o acolheram.


Em busca por aceitação ou sentimento de pertença, muitos "cisnes majestosos" ainda vivem em meio aos "patos". Mesmo percebendo-se diferentes ou não se identificando com o mundo dos "patos" - sendo muitas vezes rejeitados ou menosprezados por serem diferentes - muitos desses "cisnes" não conseguem enxergar a sua própria essência. Alguns mesmo sendo "cisnes" tentam se adaptar ao modo de vida pré-estabelecido para os "patos", outros tantos, mesmo vivendo infelizes tentam se encaixar nesse modelo, outros se conformam que a felicidade é uma coisa apenas para os "patos" escolhidos que se encaixem no modelo pré-estabelecido pelo meio em que vivem. Poucos são aqueles ditos "patinhos feios" que descobrem que são "cisnes" lindíssimos e são felizes. A maioria deles, de tanto ouvir da multidão que são feios ou aberrações da natureza, acabam internalizando isso e se sucumbem à infelicidade de uma vida de "patos" quando na verdade são cisnes lindos e podem ser felizes sendo eles mesmos vivendo de acordo com sua natureza.


Hoje sou um "cisne" orgulhoso e consciente, mas a turba sempre quis desde muito cedo incutir em minha mente que eu era um "patinho feio" e que devia me adequar ao modo de vida pré-estabelecido para os "patos". Não tentei me encaixar nesse modelo pré-estabelecido, pois o meu espelho interior me fez enxergar que eu não sou "pato", mas sim um "cisne" e sinto-me afortunado por ter e reconhecer minha essência em toda sua singularidade. Muitos "cisnes" passam a vida toda vivendo como "patos". Nunca se descobrem "cisnes" e se anulam ao aceitar o modelo pré-estabelecido pela sociedade para os "patos" tentando se encaixar no modo de vida criado para eles.




São como peixes decorativos vivendo a falsa sensação de pertença a um grupo, limitados em seus pequenos aquários decorando o olhar alheio e nunca descobrindo que podem ser felizes nadando em rios ou oceanos junto a outros peixes de sua mesma espécie.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Vídeos: depoimentos na novela Viver a vida



Fiz uma compilação dos vídeos que foram exibidos no final dos capítulos da novela "Viver a vida" em que apareceram relatos de vida de algumas pessoas que fazem parte do universo LGBT.


Assista abaixo alguns depoimentos que mostram a transexual Marina Reider que sofreu discriminação e maus-tratos, mas conquistou respeito e reconhecimento graças a sua competência profissional. Veja o depoimento de Oswaldo Braga que mesmo percebendo-se diferente dos outros rapazes relutou em aceitar a sua homossexualidade, casou se, teve 2 filhos, mas depois da separação resolveu assumir a sua condição e se tornou militante da causa LGBT.


Em outro depoimento, Chopelly Gladystton que nasceu com corpo de homem, apesar de ter a alma feminina e Maite Schneider que também nasceu menino, ficou anos em depressão, mas contou com o pai que a ajudou a mudar essa história.


Num outro relato emocionado, Marcelo Sampaio revela a luta e a persistência dele e do seu companheiro para conseguirem adotar uma criança que vivia num orfanato.


Assista também o depoimento de Lucinha Araújo, mãe do cantor Cazuza que perdeu o seu único filho para a AIDS, mas hoje ajuda milhares de famílias depois que criou a instituição Viva Cazuza.


Assistam os depoimentos clicando nos links abaixo:


Depoimento: Marina Reidel

Por ser transexual, ela sofreu discriminação e maus-tratos, mas conquistou respeito e reconhecimento graças a sua competência profissional.

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1215261-7822-DEPOIMENTO+MARINA+REIDEL,00.html


Depoimento: Oswaldo Braga

Ele não aceitava sua homossexualidade e reprimia seus desejos mais íntimos. Mas isso mudou

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1251442-7822-DEPOIMENTO+OSWALDO+BRAGA,00.html


Depoimento: Chopelly Glaudystton

Ela nasceu com corpo de homem, apesar de ter a alma feminina. Mas foi em busca da sua felicidade e acabou encontrando a paz.

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1233446-7822-DEPOIMENTO+CHOPELLY,00.html


Marcelo Sampaio: lutou contra preconceitos e convenções para adotar um filho

Junto de seu companheiro, oficializou a adoção do pequeno Manoel, encontrado em um orfanato

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1262332-7822-MARCELO+SAMPAIO+LUTOU+CONTRA+PRECONCEITOS+E+CONVENCOES+PARA+ADOTAR+UM+FILHO,00.html


Depoimento: Maite Schneider

Nasceu menino e ficou anos em depressão. Mas o pai ajudou a mudar essa história. Hoje, Maite é uma mulher feliz.

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1175337-7822-DEPOIMENTO+MAITE+SCHNEIDER,00.html


Depoimento: Lucinha Araújo

Ela perdeu o seu filho para a AIDS e ajudou a milhares da famílias quando criou a instituição Viva Cazuza.

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1258992-7822-DEPOIMENTO+LUCINHA+ARAUJO,00.html



segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dia Internacional de Combate à Homofobia



Há exatamente 20 anos, no dia 17 de maio de 1990 a Assembleia geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) retirava a homossexualidade do seu Código Internacional de Doenças (CID).


Em 1973, a American Psychology Association (APA) nos Estados Unidos retirou o “homossexualismo” da lista dos distúrbios mentais, passando a ser usado o termo homossexualidade. O sufixo “ismo” que remetia à “doença” foi substituído por “dade” que remete a “modo de ser”.


No Brasil, cinco anos antes da histórica decisão da OMS, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) já havia deixado de considerar a homossexualidade como desvio sexual. No ano de 1999, o CFP formulou uma Resolução 001/99, considerando que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão. Essa resolução do CFP estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à orientação sexual. Considerando que a Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações. A resolução do CFP resolve:


# Art. 1° – Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão, notadamente aqueles que disciplinam a não discriminação e a promoção e bem-estar das pessoas e da humanidade.

# Art. 2° – Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas.

# Art. 3° – Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.

# Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade.

# Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.




Em razão dessa decisão da OMS, que aconteceu no dia 17 de maio, essa data passou a ser também o dia em que é comemorado o Dia Internacional de Combate à Homofobia. Em várias partes do mundo são organizadas diversas atividades para lembrar a data. No Brasil, uma delas é a I Marcha Nacional contra a homofobia que iniciou ontem em Brasília e vai até o dia 19 de maio. Entre as pautas de reivindicações está a aprovação do PLC 122/2006, cobrança da garantia de um Estado laico (sem interferência de religião), o combate ao fundamentalismo religioso, o cumprimento do Plano Nacional LGBT na sua totalidade pelo governo federal, além da decisão favorável, pelo Judiciário, sobre a união estável entre casais homoafetivos.


sábado, 15 de maio de 2010

A onipresença homofóbica: a íntima relação entre o machismo e a homofobia

A filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir em seu livro O Segundo Sexo refletiu a respeito da condição da mulher na sociedade e compreendeu que a “figura feminina” e as características e posturas que lhes são atribuídas nada mais são do que construções sociais produzidas de acordo com a história. Levando em consideração a constatação dessa importante escritora feminista - e concordando com ela - preferi então me referir aos que se convencionou chamar de gays “afeminados” como gays “com características mais delicadas” e em sua oposição aos gays denominados “masculinizados” como gays “menos delicados”. A minha preferência pelo uso dessas expressões possui a clara constatação de que características como a delicadeza, sensibilidade, afabilidade, impolidez, rudeza, aspereza entre outras podem pertencer aos dois gêneros, não sendo assim características fixas e natas pertencentes apenas a um ou outro gênero. A preferência pelo não uso dos termos “afeminado” e “masculinizado” também leva em consideração toda a carga de machismo de que estão impregnados.

Em relação a essas características ditas masculinas e femininas é muito comum ouvirmos os gays com características menos delicadas, os chamados “masculinizados”, dizerem que os gays mais delicados ou “afeminados” não os representam e ainda “queimam” a “imagem” dos gays perante a sociedade. Nesse pensamento pouco reflexivo, esses gays menos delicados, responsabilizam os gays com características mais delicadas pelo recrudescimento da homofobia na sociedade. A esses gays que discriminam os mais delicados fazendo uso dessa argumentação cabe um questionamento: Existe alguma imagem de gay idealizada pelos homofóbicos que não seja alvo de seus preconceitos? Existe alguma imagem positiva que a sociedade tenha criado de algum gay que o isente de ser alvo do preconceito? É evidente que não. Então, que imagem os gays mais delicados estão “queimando”? Para os preconceituosos não importa se você é mais delicado ou nada delicado. O que importa para eles é que você sendo gay se relaciona afetivo e sexualmente com homens, e isso é papel da mulher, logo, você será inferior por supostamente se sujeitar a um papel considerado deplorável.

E o preconceito dos gays menos delicados contra os mais delicados vai além. É muito comum encontrarmos frases como "Não sou, nem curto afeminados", "Odeio afeminados!", etc em status de msn, chats e sites de “pegação” gay. Uma grande parte dessas sentenças são normalmente escritas ou proferidas por gays menos delicados que ainda se encontram “no armário”. Muitos dos gays que escrevem ou dizem em alto e bom som essas frases se defendem afirmando que não estão sendo preconceituosos por se tratar apenas de uma preferência, que apenas não se sentem atraídos pelos gays mais delicados. Mas se tratasse apenas de uma preferência, porque então não afirmarem apenas as suas preferências em frases como “gosto de gays masculinizados”? Porque então o uso de frases que desmerecem aqueles que não são os alvos de suas pretensões?

O que está por trás dessas sentenças contra os mais delicados nada mais é que a repetição do machismo onde tudo que eventualmente esteja ligado ao que se convencionou pertencer ao universo feminino seja algo inferior e motivo de censura e constrangimento. Quando se trata de homens, gays ou não, que possuem essas características ditas “femininas” ele logo é rotulado de “afrescalhado”, “afeminado”, “mulherzinha” e advertido que isso é coisa de “viado”. Essa censura serve como intimidação aos homens para que eles não ousem transitar pelo território “feminino” e nem queiram assumir um papel que está relegado às mulheres, pois se assim fizerem, logo serão considerados inferiores e tratados como tal. Essa situação ilustra muito bem a íntima relação que existe entre a misoginia, o machismo e a homofobia. Infelizmente esse pensamento machista não é repetido apenas por homens heterossexuais. Muitos homens gays - mesmo sofrendo com a homofobia que tem forte vinculação com o machismo – ainda repetem esse pensamento em ações como o menosprezo e antipatia por gays com características mais delicadas.

Muitas vezes, nem mesmo as mulheres conseguem escapar desse pensamento machista. Ainda hoje, mesmo após décadas de luta do movimento feminista pela emancipação da mulher e de luta contra o machismo presente na sociedade patriarcal, muitas mulheres ainda o reproduz para os seus filhos, amigos, pretendentes ou companheiros. Até mesmo um simples ato de presentear uma criança pode acabar contribuindo para a perpetuação das ideias machistas. Quem nunca ouviu algumas mães repreendendo seus filhos ainda pequenos com frases do tipo: ”Deixa a boneca da sua irmã, isso não é brinquedo para menino!”, “Vá brincar com seus carrinhos!” ou até mesmo aquelas mulheres que presenteiam as meninas com casinhas, fogõezinhos, panelinhas enquanto compram para os meninos carrões, jogos de estratégia e bonecos “bombados” armados até os dentes?

Participando do protesto "Saia de saia" em Belo Horizonte contra a expulsão da aluna Geisy Arruda da UNIBAN 
Ao contrário do que pensa os gays com características menos delicadas, os gays mais delicados não fazem recrudescer a homofobia e nem os menos delicados deixam de ser alvo dela. Como afirma Didier Eribon, “Às vezes, não é preciso gesto algum: a aparência ou as roupas bastam para desencadear o ódio. Tanto contra os gays mais assumidos quanto contra aqueles que o são menos ou não o são nem um pouco, contra os que “se exibem” como contra os que dão prova de “discrição”, a possibilidade de ser objeto da agressão verbal ou física permanece onipresente”*. Nem mesmo os gays naturalmente menos delicados - ou aqueles que pelo receio de serem vitimas da homofobia na sociedade se esforcem ou até desenvolvam uma limitada capacidade de controlar os gestos e a fala - estarão a salvo de serem vitimas dessa violência. Eribon compara a homofobia onipresente na sociedade como um “constante assédio moral” na vida de todos os gays independentemente de serem eles mais ou nada delicados.

* ERIBON, Didier. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2008. 445p.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Profissão Repórter mostra como as famílias tratam a homossexualidade


Caco Barcellos comanda o Profisão Repórter

Profissão Repórter mostra como as famílias tratam a homossexualidade


O Profissão Repórter, que a Rede Globo exibe nesta terça-feira, dia 11, às 23h30, logo após Força-Tarefa, mostra como as famílias brasileiras tratam a homossexualidade dentro de suas casas.

Na capital paulista, a repórter Mariane Salerno conversa com Edith, mãe de Marcelo, caçula de sete filhos e o único gay entre os irmãos. Depois da descoberta, Edith abriu sua casa para ajudar, com informação e apoio, pais que passam pela mesma situação.

Em Minas Gerais, a repórter Caroline Kleinübing acompanha as transformações na vida da professora de canto que resolveu assumir sua condição e fez a mudança de sexo, deixando de ser homem.

E, um ano depois, as repórteres Júlia Bandeira e Thais Itaqui voltam para Carapicuíba, em São Paulo, para saber como estão os filhos do casal Munira e Adriana. Elas tiveram gêmeos através de inseminação artificial e lutam na Justiça para registrar as crianças no nome delas.

Assista os vídeos do programa nos links abaixo:

Profissão Repórter Parte I
http://g1.globo.com/videos/profissao-reporter/v/homossexualidade-parte-1/1261532/#/programas/20100511/page/1

Profissão Repórter Parte II
http://g1.globo.com/videos/profissao-reporter/v/homossexualidade-parte-2/1261526/#/programas/20100511/page/1

Fonte:
ttp://redeglobo.globo.com/novidades/jornalismo/noticia/2010/05/profissao-reporter-mostra-como-familias-tratam-homossexualidade.html

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Banquete-ê-mo-nos



Banquete-ê-mo-nos com o maravilhoso trecho do livro O Banquete de Platão que trata da origem do amor e com o vídeo "The Origin Of Love" retirado do belíssimo filme "Hedwig and the Angry Inch" de John Cameron Mitchell, baseado em peça teatral de John Cameron Mitchell e Stephen Trask.

“Com efeito, parece-me os homens absolutamente não terem percebido o poder do amor, que se o percebessem, os maiores templos e altares lhe preparariam, e os maiores sacrifícios lhe fariam, não como agora que nada disso há em sua honra, quando mais que tudo deve haver. É ele com efeito o deus mais amigo do homem, protetor e médico desses males, de cuja cura dependeria sem dúvida a maior felicidade para o gênero humano. Tentarei eu portanto iniciar-vos em seu poder, e vós o ensinareis aos outros. Mas é preciso primeiro aprenderdes a natureza humana e as suas vicissitudes.

Com efeito, nossa natureza outrora não era a mesma que a de agora, mas diferente. Em primeiro lugar, três eram os gêneros da humanidade, não dois como agora, o masculino e o feminino, mas também havia a mais um terceiro, comum a estes dois, do qual resta agora um nome, desaparecida a coisa; andrógino era então um gênero distinto, tanto na forma como no nome comum aos dois, ao masculino e ao feminino, enquanto agora nada mais é que um nome posto em desonra. Depois, inteiriça era a forma de cada homem, com o dorso redondo, os flancos em círculo; quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo tanto das mãos, dois rostos sobre um pescoço torneado, semelhantes em tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos um ao outro era uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como desses exemplos se poderia supor. E quanto ao seu andar, era também ereto como agora, em qualquer das duas direções que quisesse; mas quando se lançavam a uma rápida corrida, como os que cambalhotando e virando as pernas para cima fazem uma roda, do mesmo modo, apoiando-se nos seus oito membros de então, rapidamente se locomoviam em círculo.

Eis por que eram três os gêneros, e tal a sua constituição, por que o masculino de início era descendente do sol, o feminino da terra, e o que tinha de ambos era da lua, pois também a lua tem de ambos; e eram assim circulares, tanto eles próprios como a sua locomoção, por terem semelhantes genitores. Eram por conseguinte de uma força e de um vigor terríveis, e uma grande presunção eles tinham; mas voltaram-se contra os deuses, e o que diz Homero de Efialtes e de Otes é a eles que se refere, a tentativa de fazer uma escalada ao céu, para investir contra os deuses. Zeus então e os demais deuses puseram-se a deliberar sobre o que se devia fazer com eles, e embaraçavam-se; não podiam nem matá-los e, após fulminá-los como aos gigantes, fazer desaparecer-lhes a raça - pois as honras e os templos que lhes vinham dos homens desapareceriam — nem permitir-lhes que continuassem na impiedade.Depois de laboriosa reflexão, diz Zeus:

“Acho que tenho um meio de fazer com que os homens possam existir, mas parem com a intemperança, tornados mais fracos. Agora com efeito, continuou, eu os cortarei a cada um em dois, e ao mesmo tempo eles serão mais fracos e também mais úteis para nós, pelo fato de se terem tomado mais numerosos; e andarão eretos, sobre duas pernas. Se ainda pensarem em arrogância e não quiserem acomodar-se, de novo, disse ele, eu os cortarei em dois, e assim sobre uma só perna eles andarão, saltitando.”

Logo que o disse pôs-se a contar os homens em dois, como os que cortam as sorvas para a conserva, ou como os que cortam ovos com cabelo; a cada um que cortava mandava Apolo voltar-lhe o rosto e a banda do pescoço para o lado do corte, a fim de que, contemplando a própria mutilação, fosse mais moderado o homem, e quanto ao mais ele também mandava curar. Apolo torcia-lhes o rosto, e repuxando a pele de todos os lados para o que agora se chama o ventre, como as bolsas que se entrouxam, ele fazia uma só abertura e ligava-a firmemente no meio do ventre, que é o que chamam umbigo. As outras pregas, numerosas, ele se pôs a polir, e a articular os peitos, com um instrumento semelhante ao dos sapateiros quando estão polindo na forma as pregas dos sapatos; umas poucas ele deixou, as que estão à volta do próprio ventre e do umbigo, para lembrança da antiga condição.

Por conseguinte, desde que a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por sua própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral, por nada quererem fazer longe um do outro. E sempre que morria uma das metades e a outra ficava, a que ficava procurava outra e com ela se enlaçava, quer se encontrasse com a metade do todo que era mulher - o que agora chamamos mulher — quer com a de um homem; e assim iam-se destruindo.

Tomado de compaixão, Zeus consegue outro expediente, e lhes muda o sexo para a frente - pois até então eles o tinham para fora, e geravam e reproduziam não um no outro, mas na terra, como as cigarras; pondo assim o sexo na frente deles fez com que através dele se processasse a geração um no outro, o macho na fêmea, pelo seguinte, para que no enlace, se fosse um homem a encontrar uma mulher, que ao mesmo tempo gerassem e se fosse constituindo a raça, mas se fosse um homem com um homem, que pelo menos houvesse saciedade em seu convívio e pudessem repousar, voltar ao trabalho e ocupar-se do resto da vida.

E então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós portanto é uma téssera complementar de um homem, porque cortado como os linguados, de um só em dois; e procura então cada um o seu próprio complemento. Por conseguinte, todos os homens que são um corte do tipo comum, o que então se chamava andrógino, gostam de mulheres, e a maioria dos adultérios provém deste tipo, assim como também todas as mulheres que gostam de homens e são adúlteras, é deste tipo que provêm. Todas as mulheres que são o corte de uma mulher não dirige muito sua atenção aos homens, mas antes estão voltadas para as mulheres e as amiguinhas provêm deste tipo. E todos os que são corte de um macho perseguem o macho, e enquanto são crianças, como cortículos do macho, gostam dos homens e se comprazem em deitar-se com os homens e a eles se enlaçar, e são estes os melhores meninos e adolescentes, os de natural mais corajoso.

Dizem alguns, é verdade, que eles são despudorados, mas estão mentindo; pois não é por despudor que fazem isso, mas por audácia, coragem e masculinidade, porque acolhem o que lhes é semelhante. Uma prova disso é que, uma vez amadurecidos, são os únicos que chegam a ser homens para a política, os que são desse tipo. E quando se tornam homens, são os jovens que eles amam, e a casamentos e procriação naturalmente eles não lhes dão atenção, embora por lei a isso sejam forçados, mas se contentam em passar a vida um com o outro, solteiros. Assim é que, em geral, tal tipo torna-se amante e amigo do amante, porque está sempre acolhendo o que lhe é aparentado. Quando então se encontra com aquele mesmo que é a sua própria metade, tanto o amante do jovem como qualquer outro, então extraordinárias são as emoções que sentem, de amizade, intimidade e amor, a ponto de não quererem por assim dizer separar-se um do outro nem por um pequeno momento. E os que continuam um com o outro pela vida afora são estes, os quais nem saberiam dizer o que querem que lhes venha da parte de um ao outro. A ninguém com efeito pareceria que se trata de união sexual, e que é porventura em vista disso que um gosta da companhia do outro assim com tanto interesse; ao contrário, que uma coisa quer a alma de cada um, é evidente, a qual coisa ela não pode dizer, mas adivinha o que quer e o indica por enigmas.

Se diante deles, deitados no mesmo leito, surgisse Hefaísto e com seus instrumentos lhes perguntasse: Que é que quereis, ó homens, ter um do outro?, e se, diante do seu embaraço, de novo lhes perguntasse: Porventura é isso que desejais, ficardes no mesmo lugar o mais possível um para o outro, de modo que nem de noite nem de dia vos separeis um do outro? Pois se é isso que desejais, quero fundir-vos e forjar-vos numa mesma pessoa, de modo que de dois vos tomeis um só e, enquanto viverdes como uma só pessoa, possais viver ambos em comum, e depois que morrerdes, lá no Hades, em vez de dois ser um só, mortos os dois numa morte comum; mas vede se é isso o vosso amor, e se vos contentais se conseguirdes isso. Depois de ouvir essas palavras, sabemos que nem um só diria que não, ou demonstraria querer outra coisa, mas simplesmente pensaria ter ouvido o que há muito estava desejando, sim, unir-se e confundir-se com o amado e de dois ficarem um só. O motivo disso é que nossa antiga natureza era assim e nós éramos um todo; é portanto ao desejo e procura do todo que se dá o nome de amor. Anteriormente, como estou dizendo, nós éramos um só, e agora é que, por causa da nossa injustiça, fomos separados pelo deus, e como o foram os árcades pelos lacedemônios; é de temer então, se não formos moderados para com os deuses, que de novo sejamos fendidos em dois, e perambulemos tais quais os que nas estelas estão talhados de perfil, serrados na linha do nariz, como os ossos que se fendem.

Pois bem, em vista dessas eventualidades todo homem deve a todos exortar à piedade para com os deuses, a fim de que evitemos uma e alcancemos a outra, na medida em que o Amor nos dirige e comanda. Que ninguém em sua ação se lhe oponha - e se opõe todo aquele que aos deuses se torna odioso – pois amigos do deus e com ele reconciliados descobriremos e conseguiremos o nosso próprio amado, o que agora poucos fazem. E que não me suspeite Erixímaco, fazendo comédia de meu discurso, que é a Pausânias e Agatão que me estou referindo talvez também estes se encontrem no número desses e são ambos de natureza máscula mas eu no entanto estou dizendo a respeito de todos, homens e mulheres, que é assim que nossa raça se tornaria feliz, se plenamente realizássemos o amor, e o seu próprio amado cada um encontrasse, tornado à sua primitiva natureza.

E se isso é o melhor, é forçoso que dos casos atuais o que mais se lhe avizinha é o melhor, e é este o conseguir um bem amado de natureza conforme ao seu gosto; e se disso fôssemos glorificar o deus responsável, merecidamente glorificaríamos o Amor, que agora nos é de máxima utilidade, levando-nos ao que nos é familiar, e que para o futuro nos dá as maiores esperanças, se formos piedosos para com os deuses, de restabelecer-nos em nossa primitiva natureza e, depois de nos curar, fazer-nos bem aventurados e felizes.”




Dica de filme: para quem não assistiu, não deixem de conferir o belíssimo filme/musical "Hedwig and the Angry Inch" de John Cameron Mitchell de onde foi retirado o vídeo "The Origin Of Love".


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Os 3 poderes LGBT



Unidos, podemos muito e nos tornamos fortes! Separados, somos apenas um voz solitária perdida na multidão e podemos cair na armadilha de servirmos apenas como massa de manobra. Todos os brasileiros possuem liberdade para mobilização, o poder de escolha - como a escolha dos candidatos nas eleições, por exemplo - e também, em maior ou menor nível, possuímos poder de compra. Penso que a maioria das pessoas têm consciência disso, mas nem sempre fazem uso desses que aqui denominarei de “3 poderes”. No caso das Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), o uso desses “3 poderes” são importantíssimos, afinal, temos em torno de 78 direitos negados pelo Estado e lutamos por essa equidade. Penso que os LGBT precisam se conscientizar a respeito desses “3 poderes” e usá-los em seu favor. A conscientização e o uso desses “poderes”, principalmente no caso dos LGBT, servirá como importante instrumento na luta pela conquista de uma verdadeira cidadania para essa parcela da população historicamente marginalizada pelo Estado no que se refere aos seus direitos. Abaixo exemplificarei a respeito desses “3 poderes”:



O PODER DA MOBILIZAÇÃO
Um bom exemplo de mobilização do Movimento LGBT brasileiro é a Campanha Não Homofobia, organizada pelo Grupo arco-Íris de Cidadania LGBT que tem como objetivo principal pressionar os deputados em relação à aprovação do Projeto de Lei da Câmara/PLC122/2006 que tornaria crime a homofobia. Infelizmente, mesmo sendo feita pela internet, o que possibilita atingir todo o território nacional, a Campanha Não Homofobia só arrecadou até esse momento pouco mais de 70 mil assinaturas. Enquanto o PLC122 não é aprovado a violência homofóbica continua fazendo suas vítimas. Em sua pesquisa feita anualmente, o Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgou que cerca de 200 LGBT foram assassinados no Brasil em 2009.
Outra mobilização de um passado não muito distante aconteceu por parte do Movimento Negro que pressionou para que o racismo fosse criminalizado no Brasil.
Movimento também vitorioso aconteceu por parte da novelista Glória Perez quando da morte de sua filha Daniela. Glória liderou campanha com um abaixo-assinado com o intuito de conseguir incluir o homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos. Ela precisaria recolher 900 mil assinaturas para que esse abaixo-assinado se transformasse num projeto de iniciativa popular, mas a novelista conseguiu 1,3 milhão. Recentemente a sentença do casal Nardoni foi amparada por essa mudança na lei que aconteceu pela mobilização da novelista que obteve grande apoio por parte da população na época.
Outro exemplo de mobilização foi a pressão do Movimento Feminista pela aprovação da lei Maria da Penha que garantiu mecanismos de defesa mais abrangentes para mulheres vítimas de violência doméstica.




O PODER DE COMPRA
Sabemos que existe uma boa parcela do mercado que trabalha para o público LGBT, por exemplo, podemos citar os estabelecimentos denominados Gay Friendly. Confesso que não me agrado dessa perspectiva mercadológica que quer transformar a cidadania LGBT em produto, afinal, sabemos que cidadania não pode ser transformada num produto onde só os mais abastados podem comprar, e os menos favorecidos ficam de fora. Mas não podemos negar que independente do poder aquisitivo, os LGBT também são consumidores e isso pode ser percebido claramente pelo interesse do mercado em nosso poder de compra, o chamado pink money.
Um exemplo que pode ser citado foi o caso do salgadinho Doritos da Elma Chips que veiculava dois comerciais homofóbicos. Num deles um rapaz aparecia cantando e fazendo a coreografia da música “YMCA” e no outro um rapaz cantava “Like a Virgin” e recebia olhares de reprovação de seus amigos. Logo em seguida, os rapazes dançarinos/cantores levavam uma “bordoada na cara” com o saquinho do salgadinho seguida da frase: “Quer dividir algo? Divida um Doritos!”. As músicas consideradas hinos gays não foram escolhidas por acaso, mas com intuito de passar a ideia de que o rapaz era gay e que não devia compartilhar isso com ninguém. A comunidade gay denunciou a peça junto ao Conselho Nacional de Autorregulametação Publicitária (CONAR), muitos enviaram e-mails para o SAC da empresa reclamando da propaganda e anunciando um boicote aos produtos da marca. A repercussão foi tanta que fez com que empresa não mais veiculasse os comerciais. Outro recente anúncio de boicote aconteceu com os produtos que patrocinavam o Big Brother Brasil por causa do preconceito de um de seus participantes com os gays. Todos nós sabemos que as empresas não querem ver seus produtos associados com imagens negativas, por isso, o boicote e a reclamação dos consumidores junto às empresas pode fazer muita diferença nesses casos.




O PODER DO VOTO
Na hora do voto, os homossexuais precisam se informar a respeito das propostas dos candidatos voltadas para a causa LGBT ou de sua posição a respeito delas. É preciso se informar sobre o histórico do candidato em relação a sua atuação em prol dos nossos direitos antes de decidirmos apoiá-lo. É preciso dar importância e valorizar o seu voto para não correr o risco de eleger um político homofóbico ( ou um gay com homofobia internalizada) que no futuro poderá votar contra as propostas que nos favoreçam e atravancar ainda mais a conquista dos direitos que nos são negados. Se o candidato não for assumidamente gay, no mínimo precisa ser aliado da causa LGBT e ter demonstrado isso em ações anteriores ou em promessas futuras. Promessas às quais devem ser cobradas por cada eleitor em particular e pelo Movimento LGBT caso esse candidato seja eleito. Aquela velha história que diz “gay não vota em gay” precisa ser mudada. Precisamos eleger nossos próprios representantes para que não sejamos eternos dependentes de candidatos simpatizantes que defendem outros interesses e que não têm a nossa causa como foco de sua luta. Precisamos ter em mente que homofóbicos votam em seus representantes: religiosos homofóbicos elegem religiosos homofóbicos. E nessa história de “gay que não vota em gay” quem acaba não tendo representantividade nas instâncias de poder são os LGBT. E a conseqüência dessa falta de representatividade resulta no enfraquecimento da nossa causa e consequentemente dificulta a conquista dos nossos direitos.


Ao contrário do que alega os homofóbicos, a luta do Movimento LGBT não fere o direito adquirido de ninguém. Não queremos privilégios. Não queremos nem mais, nem menos, apenas reivindicamos os direitos que nos são negados pelo Estado e lutamos pela equidade dos mesmos.
Se todos unissem nessa luta, conseguiríamos pressionar nossos representantes na Câmara dos Deputados para aprovarem o PLC 122/2006 e outros tantos requerimentos em nosso favor que tramitam nas casas legislativas brasileiras, mas que enfrentam oposição de deputados e senadores religiosos preconceituosos que querem legislar como se vivessem em um estado teocrático.


Acredito que se todas as Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais se conscientizassem e fizessem uso desses “3 poderes”, com certeza muitas de nossas reivindicações se transformariam em realidade. Se nós LGBT, soubessemos valorizar e usar esses nossos “3 poderes”: o de mobilização, de compra e de voto em prol da nossa causa, com certeza passaríamos de meros coadjuvantes à personagens principais no que se refere à conquista da nossa verdadeira cidadania. Além de passarmos a ser respeitados como seres humanos, consumidores exigentes e eleitores conscientes. O chamado está feito!


segunda-feira, 3 de maio de 2010

MEC e Unesco lançam livro que trata da homofobia nas escolas



Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas


Num resultado da parceria entre a UNESCO (Órgão das Nações Unidas para a Educação) e o Ministério da Educação (MEC) foi lançado o livro “Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas”. O livro é o 32º volume da Coleção de Livros Educação Para Todos.


Este volume nº 32 da Coleção, propõe uma série consistente e articulada de reflexões sobre a produção e a reprodução da homofobia na educação, especialmente no contexto da escola e nos espaços ligados a ela.


Rigorosa e minuciosamente examinada a partir dos instrumentos fornecidos pelas ciências sociais e humanas, a homofobia (compreendidas também a lesbofobia, a transfobia e a bifobia) evidencia-se como um grave problema social cujo enfrentamento não pode ser mais adiado.


O espaço escolar aparece aqui como uma poderosa instância de reprodução das lógicas homofóbicas. Ali, a homofobia é consentida e ensinada, produzindo efeitos devastadores na formação de todas as pessoas.


A homofobia compromete a inclusão educacional e a qualidade do ensino. Incide na relação docente-estudante. Produz desinteresse pela escola, dificulta a aprendizagem e conduz à evasão e ao abandono escolar. Afeta a definição das carreiras profissionais e dificulta a inserção no mercado de trabalho.


Para download do livro clique no link abaixo ou na imagem acima.

http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001871/187191por.pdf

30 ideias para ajudar a causa LGBT do seu jeito



MUITÍSSIMO INTERESSANTE ESSE PROJETO! VALE SUPER A PENA CONFERIR, SE ENGAJAR E CONTRIBUIR COM A CAUSA LGBT!


O projeto "30 ideias" foi idealizado pelo advogado Thiago Magalhães, 31 anos. Thiago é advogado formado pela (USP) e jornalista em formação e escreve o blog "Textos, Contextos e Pretextos de Introspective", em que fala sobre comportamento, gastronomia, turismo, noite e variedades do universo gay. Colaborador da revista DOM e fotógrafo amador. O projeto conta também com colaboradores de outras aréas do conhecimento.


ASSUMA-SE (autoestima, orgulho e aceitação)


1) Por mais que existam piadas, comentários, opiniões e até religiões reforçando o preconceito e a homofobia e tentando esculhambar os homossexuais, lembre-se de que a sua orientação sexual não vale menos do que as demais, nem é motivo de vergonha. Você não é melhor ou pior do que os outros (muito menos sujo, pecador, culpado ou doente) por ser homo, bi ou heterossexual. Sua sexualidade é apenas mais um detalhe sobre você, assim como a cor dos seus olhos.


2) Sair do armário pode ter um custo na vida pessoal que deve ser avaliado. Mas também pode trazer benefícios. O fim das mentiras é sempre um alívio. Vencido o estranhamento inicial, suas relações ficam mais próximas, profundas e autênticas, com parentes e amigos gostando de quem você é de verdade. Além disso, você faz sua parte para que a sociedade assimile melhor a diversidade, ao mostrar a ela referências diferentes dos estereótipos. Pense nisso e tome sua decisão, no momento oportuno e para as pessoas que julgar adequado (você não precisa dividir sua intimidade com todo mundo).


3) Dê apoio àquele(a) amigo(a) que saiu ou foi retirado(a) do armário. Mesmo se foi uma decisão precipitada ou as conseqüências foram desastrosas, jamais lamente ou critique. Um e-mail, um telefonema, um convite para um café (ou, em casos extremos, uma mãozinha para conseguir um novo lar ou um novo emprego), são boas maneiras de ajudar.


4) Não tenha medo de andar de mãos dadas, beijar e fazer as mesmas carícias que outros casais podem trocar em locais públicos. Ninguém tem o direito de pedir que você pare de fazer aquilo que é permitido aos demais. Expressar seu carinho não significa agredir ninguém e você não precisa ficar constrangido por isso.

5) Da próxima vez que você ouvir uma piada escrota ou um comentário maldoso contra homossexuais, não finja que acha natural, muito menos engraçado. Avalie quem são seus interlocutores e, se você achar que vale a pena, mostre que essas visões são fundadas em preconceitos e ideias inadequadas. Muitas vezes, o problema é de falta de informação (o que também vale para quem fala em “homossexualismo” e “opção sexual”). Você pode ajudar a mudar a mentalidade sem se tornar um patrulheiro chato.

6) Não semeie o preconceito interno. Você pode preferir alguns estilos, tribos ou grupos, com quem tem mais afinidade. Mas isso não lhe torna melhor do que os “afeminados” (ou as “masculinizadas”), pobres, nordestinos, negros ou gordos, nem lhe dá o direito de desprezá-los ou humilhá-los. Não faz sentido gays falarem mal de travestis, travestis falarem mal de lésbicas, lésbicas falarem mal de gays...


DEFENDA-SE (consumo, preconceito e justiça)


7) Exerça seu poder de consumidor. Boicote produtos e serviços oferecidos por empresas com posturas homofóbicas ou propagandas preconceituosas. O mesmo vale para programas de TV que ridicularizam homossexuais. Por outro lado, prestigiem

estabelecimentos que simpatizem com a causa – mas tente diferenciar os que são genuinamente friendly daqueles que não passam de oportunistas de plantão.


8) Você viu alguém levando um “coió”, sofrendo violência física? Chame a polícia imediatamente. Seja solidário e preste todo tipo de socorro à vítima que estiver ao seu alcance, sem se colocar em perigo. E testemunhe em favor do ofendido, caso ele decida prestar queixa. Pesquisas apontam que boa parte dos LGBTs que sofrem violência não relata o ocorrido a ninguém. Mas denunciar é a única maneira de atacar o problema e combater a impunidade.


9) Se você sofrer preconceito, discriminação e/ou violência em razão da sua sexualidade em qualquer lugar público, não se cale: denuncie. Quem está em São Paulo conta com o apoio da Lei Estadual nº 10.948 e não precisa expor sua identidade. Pesquise se na sua cidade ou estado há leis contra a discriminação, ou mesmo órgãos e delegacias especializados. Mesmo se não houver, o Ministério Público está em todo lugar e pode ajudar. Existem ONGs que podem ajudá-lo no contato com as autoridades.


10) Sofreu perseguições, humilhações, foi despedido por conta da sua orientação sexual? Reúna provas e testemunhas (ambas são indispensáveis!), procure um advogado e corra atrás dos seus direitos. Para quem não tem condições financeiras de bancar um advogado, a Defensoria Pública presta assistência jurídica gratuita e tem defensores especializados em LGBTs. O processo judicial levará tempo, mas a vitória proporcionará a reparação dos danos e ainda servirá de exemplo – para quem sofre processar, e para quem persegue pensar duas vezes.


11) Quando você se deparar com um site ou qualquer outra manifestação homofóbica na internet, denuncie à SaferNet. Faça o mesmo quando encontrar algo sexista, racista ou preconceituoso contra qualquer outra população.

ORIENTE-SE (informação e política)


12) Leia jornais e/ou assista ao noticiário na TV. Mantenha-se informado sobre o que acontece na sua cidade, no seu país, no mundo - e não apenas no meio gay.


13) Procure conhecer a história dos políticos em quem você pensa em votar. Você pode escolher candidatos mais comprometidos com os interesses da causa LGBT – e ajudar a evitar que outros militem contra nós e fechem portas importantes. Mas não vote em alguém só porque ele é homossexual ou aproveita para fazer palanque nas manifestações e depois some.


14) Saiba quais são os projetos de lei de interesse LGBT que aguardam votação: o que eles preveem e como eles podem mudar a sua vida.


15) Acompanhe a atuação dos parlamentares em quem você votou no que se refere às ações contra a homofobia. Pesquise se eles integram a Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT. Comunique-se com deputados ou senadores e cobre deles apoio aos projetos e compromisso com a cidadania LGBT.


16) Registre seu apoio ao PLC 122 (que criminaliza atitudes homofóbicas em todo o território nacional) através do Alô Senado, um serviço telefônico que permite que cidadãos se manifestem sobre iniciativas em trâmite no Congresso. Basta ligar para 0800 61 22 11 e pedir que senadores do seu Estado, em especial aqueles que fazem parte da Comissão de Assuntos Sociais, votem pela aprovação do projeto. Se você não sabe quem são os senadores do seu Estado, a telefonista poderá informar. A operadora vai solicitar dados pessoais, mas não se preocupe: isso é apenas para evitar que uma mesma pessoa faça várias ligações. É seguro e gratuito. O mesmo pode ser feito por meio do site.


Para acessar as outras ideias clique no link do projeto abaixo.


PROJETO 30 IDEIAS PARA AJUDAR A CAUSA LGBT DO SEU JEITO

http://30ideias.blogspot.com/