sexta-feira, 2 de julho de 2010

'Real life', 'virtual life' e o caminho da felicidade



O ponto de partida para a escrita desse texto foi a frase de um jovem amigo que demonstrou certa desesperança ao falar sobre a insensibilidade que tem percebido no ser humano nos tempos atuais. Comecei a resposta para esse amigo destacando que sou um humanista, mas mostrando lhe o meu senso de realidade em relação às imperfeições daquilo que chamamos humanidade. Acredito que ao longo do tempo as pessoas vêm perdendo muito das características do que chamamos de humanidade. Digo isso não como uma pessoa que queira recuperar valores tradicionalistas (algumas tradições me dão medo) ou seguir os modelos pré-estabelecidos pela sociedade – até mesmo porque não sou ligado a tradições e não consigo e nem quero me encaixar em modelos que não foram feitos por mim, nem pra mim. Falo como uma pessoa que observa o mundo ao seu redor e repara que muitas pessoas estão ficando cada vez mais diminuídas se comparado com a grandeza do que pode experimentar o ser chamado humano. O imediatismo e a superficialidade em que muitos vivem hoje chega mesmo a assustar. O Twitter pode servir como um bom exemplo desse imediatismo e reducionismo em que as pessoas vivem. Mesmo considerando que o Twitter, Facebook, Orkut e outros são boas ferramentas para a comunicação e socialização, quase sempre os nossos pensamentos não podem ser resumidos em 140 caracteres e a nossa relação com as pessoas não se resume em dizer que aceita ou rejeita alguém apenas pelo simples click no sim ou no não.

Na vida real as coisas não são tão simples assim, mas o pior é que muita gente está vivendo a vida real como no virtual onde você cria um “perfil” e quando ele não está mais te agradando você o excluí e cria um novo. Muita gente adiciona, descarta e ignora pessoas de suas vidas hoje da mesma forma como fazem no Orkut, facebook e outros. Nós somos muito mais que isso! Somos seres humanos, complexos, cheios de perfeições e imperfeições, repletos de luz, mas temos que reconhecer que também somos sombra. Quando reconhecemos que também somos sombras podemos trabalhar melhor esse aspecto através do nosso autoconhecimento. Todos somos feitos de carne, ossos, sentimentos e subjetividades. Sentimentos e subjetividades que muitas vezes são ignorados, menosprezados ou vilipendiados exatamente por aqueles a quem amamos e que dizem nos amar (família em geral), ou por aqueles a quem escolhemos para amar (relacionamentos amorosos). No caso dos homossexuais, isso ainda é pior, pois a maioria deles não encontra aceitação da sua orientação sexual dentro das suas próprias famílias e, além disso, quando passam por desilusões amorosas (ou até mesmo quando estão felizes nos relacionamentos que vivem escondidos) não têm com quem compartilhar suas tristezas ou alegrias. E isso acontece por causa do preconceito das pessoas.

Em relação às decepções amorosas o que não pode acontecer é cairmos na armadilha de desistirmos de sermos felizes levando em consideração apenas algumas decepções amorosas. Num universo tão grande de pessoas e possibilidades não podemos atribuir tanta importância para uma ou outra pessoa que tenha nos decepcionado. Não é porque vivemos uma experiência ruim com alguém que isso signifique que todas as pessoas irão nos magoar e decepcionar. Também não podemos nos anular para se encaixar em modelos pré estabelecidos com o intuito apenas de agradarmos nossa família. Acredito que está faltando uma pergunta que muitos pais estão esquecendo de fazer para seus filhos. A pergunta é : “você está feliz meu(minha) filho(a)?” É preciso que os pais estejam atentos não só para ouvir a verdade sobre essa pergunta, mas também que estejam dispostos a apoiarem os seus filhos e ajudá-los na resolução de seus problemas contribuindo para que eles consigam alcançar a sua realização profissional e também pessoal. Afinal, o que deve mais importar para aqueles que nos ama que não seja saber se estamos felizes ou não? Falta diálogo, carinho, compreensão, amizade e alguma cumplicidade entre pais e filhos. No caso de pais de LGBT, quando os filhos assumem a sua orientação sexual ou mesmo quando os pais desconfiam ou tenham certeza que seus filhos são homossexuais, na maioria das vezes o diálogo é substituído por um silenciamento em relação a esse(a) filho(a) e tudo que diz respeito à sua vida. Esse silêncio muitas vezes afasta pais e filhos mesmo que eles morem na mesma casa. Para muitos desses pais, os filhos são como pessoas estranhas que eles não sabem nada a respeito deles e nem se esforçam por saber. Isso mostra o despreparo de muitos pais em lidarem com a homossexualidade de seus filhos e o resultado disso não seria diferente do que mais sofrimento ainda para os filhos, que não encontram nem mesmo na família o apoio e a compreensão que poderiam fortalecê-los para conseguirem enfrentar os preconceitos existentes fora dela. Muitas vezes, a preocupação com a manutenção das tradições e dos modelos pré-estabelecidos de comportamento criados pela sociedade se torna mais importante para alguns pais do que a felicidade dos seus filhos. É nisso que reside o meu medo das tradições e dos modelos pré-estabelecidos.


Num mundo em que as conversas fragmentadas e sem calor humano via msn estão substituindo os encontros face to face", na vida real muitas pessoas não têm mais paciência para ouvir com mais atenção o que os outros têm a dizer e têm medo de expressarem os seus sentimentos e angústias por medo da não aceitação do outro, ou mesmo pelo desinteresse das pessoas em conhecerem alguém para além de sua epiderme. Vivemos, hoje, um paradoxo onde somos bombardeados a todo momento por uma infinidade de informações, existe muita gente se expressando das mais diversas formas, mas ao mesmo tempo poucas pessoas estão interessadas em reservar mais que um minuto para ler ou ouvir o que alguém tem a dizer. No mundo do imediatismo poucos são aqueles que lêem mais de uma fonte de informação para formar opinião crítica sobre uma questão ou que esperam um pouco mais de tempo para conhecerem melhor uma pessoa antes de ter uma opinião formada sobre ela. Vivemos numa verdadeira Torre de Babel onde o imediatismo e o individualismo faz com que as pessoas fiquem cada dia mais distantes umas das outras cultivando ilusões a respeito da vida e do viver. A maioria das pessoas parece se iludir e viver numa ditadura de eterna felicidade ou resumem suas vidas numa busca insana por ela levando em consideração apenas o ter e não o ser. Observo que vivemos uma época de pessoas pseudo-felizes que se auto-sabotam escrevendo em seus status dos seus Orkuts Profile 2 , em seus Twitters e Facebook com milhares de amigos e seguidores ou álbuns de fotografias na web coisas do tipo: “ Final de semana perfeito!” “Eternamente casados” ou “Feliz ao lado do grande amor da minha vida”. Não é preciso que se acompanhe muito tempo a vida dessas pessoas para percebermos que esse final de semana perfeito, essas promessas de eternamente juntos ao lado do grande amor das suas vidas muitas vezes são relacionamentos que não costumam ultrapassar o tempo de uma estação do ano. A solidão é tão grande e aparentar se tornou tão importante que já vi amigo contratar garoto de programa apenas para acompanhá-lo na night. Fez isso apenas para mostrar para um ex dele (que durou pouco mais de um mês) que seria capaz de arrumar alguém. Quanta solidão! Cheguei a ter pena dele! É estranho como as pessoas se perdem em ilusões e pensam que sua real life é igual a virtual life ou second life.

Muitas vezes, percebemos que são essas mesmas pessoas com vários perfis de Orkut, Facebbok e Twitter  lotados e com milhares de seguidores que fazem com que comunidades com o título “ Eu quero um amor pra vida toda” ultrapassem mais de hum milhão e trezentos mil membros apenas no Brasil. É estranho que tanta gente esteja a procura desse amor pra vida toda e que elas nunca se encontrem. Onde estão perdidas todas essas pessoas com essas intenções de viver uma relação duradoura ou um amor pra vida toda? Estarão elas sentadas na frente de seus computadores e sendo vistas apenas através de suas Webcams? Também existem aquelas pessoas que pensam que felicidade mesmo é poder freqüentar todas as baladas da moda no final de semana e poder expor as suas roupas ultra modernas de marcas famosas. Muitos dessas pessoas voltam vazios e sozinhos para casa e nos outros dias da semana buscam o equilíbrio e a felicidade nas drogas lícitas: as chamadas “tarjas pretas” ou nos consultórios de psicólogos, psicanalistas e psiquiatras. Alguns partem para as drogas ilícitas mesmo como uma forma de preencherem o vazio e a solidão de suas vidas.

Talvez a solução para os problemas da insensibilidade e infelicidade dos nossos tempos passe pela observação e constatação como disse Mahatma Gandhi de que “Não existe caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho!”, pois é exatamente esse caminho e esse caminhar que as pessoas estão perdendo quando substituem a vida real pela fantasia da vida virtual. É preciso que constatemos que a nossa felicidade não está no outro, nem em outro lugar ou coisa que não seja em nós mesmos. Não existe uma felicidade que se encontra além do horizonte ou naquilo que nunca está ao nosso alcance, mas ela está nas coisas simples e pequenas do nosso dia-a-dia e que muitas vezes passa despercebido e que a virtual life não permite. A felicidade está em coisas simples, seja num sorriso sincero de alguém, num cruzar de olhares em meio à multidão, num abraço afetuoso de alguém ou numa pessoa que pergunta como você está e espera pelo menos alguns segundos para ouvir o que você respondeu e que realmente se importa em saber como você está. Talvez a felicidade esteja simplesmente na constatação de que não existe um lugar fantástico onde a felicidade jorre abundantemente e eternamente, mas sim pelos caminhos que trilhamos ao longo da nossa vida. O encontro da felicidade pode ser resumido na metáfora de um bom caminhante que observa os caminhos por onde passa, não ignora as pedras do caminho, mas sabe colher as melhores flores desse caminho e transformá-las num belo bouquet.
Li esse texto há algum tempo no blog de um amigo, me identifiquei e quero compartilhar com vocês:
“Felicidade vem de escolhas corretas”
Sempre que houver alternativas, tenha cuidado… Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo certo aos olhos dos “normais”! Opte pelo que faz o seu coração vibrar. Opte pelo que gosta de fazer, apesar de todas as conseqüências...A felicidade vem de escolhas corretas!

4 comentários:

  1. Olá sou o Bill. Adorei seu blog e todo seu trabalho de postagens aqui, muito obrigado pela militancia. Texto altamente relevante.

    Taí o meu http://sanguechocolatebill.blogspot.com/
    é bem adoslescente mas eu esponho meus sentimentos nele.
    Abraççss.

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  2. Belíssimo texto! Eu vejo que as pessoas estão muito preocupadas em ter muitos amigos e seguidores no orkut e no twitter, como se a quantidade de amigos fosse diretamente proporcional à felicidade da mesma. A grande maioria nem sabe quem é direito, nem se conhece virtual ou realmente, mas esbanja sua lista de friends com orgulho como se aquilo lhe tornasse uma pessoa importante, digna de respeito. E isso muitas vezes se aplica aos LGBT (não somente a eles, mas também) que não encontram apoio das pessoas que convivem, muitas vezes pelo fato de serem gays, e criam uma vida virtual para compensar a ausência da real. E tudo isso é relacionado com a permanência dos valores clássicos, dos valores tradicionais, como você bem disse. Vale tudo para manter as aparências, inclusive a felicidade e, principalmente, a liberdade das pessoas. O mundo cibernético é muito bom em certos aspectos, mas também é muito triste, pois as pessoas muitas vezes ou montam imagens perfeitas de si mesmos (coisa que não existe, pois todos temos defeitos) ou fogem de uma realidade brutal que não as aceita do jeito que são.
    Abraços, querido!

    Leandro Machado, 3 julho, 2010.

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  3. Oi Bill! Seja bem vindo!!!

    Obrigado vc pelo elogio! Que bom que vc gostou do blog e das postagens! Sinta-se à vontade para comentá-las com suas opiniões ok? Visitei o seu blog e achei muito interessante os seus textos e a sua forma de se expressar. Nem pareceu tão adolescente assim! rsrs Que bom que vc se tornou um seguidor do blog! Fico feliz em ter vc por aqui! Gosto muito de sua participação no YR!

    Abração!!! Welcome!!!

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  4. Oi meu querido Leandro!

    Vc tocou no X da questão. O mundo virtual é algo que tem seus prós e contra. No caso dos LGBT o mundo virtual permite experimentar certa sociabilidade que a homofobia, a intolerância e a violência que existe na vida real não lhes permite. Além dos “guetos”, onde os LGBT ainda podem vivenciar a sua afetividade sem medo de ser atacado ou morto por um homofóbico, não restam para eles muitas outras opções para isso. E por isso, o mundo virtual se tornou um lugar onde os LGBT também encontram certa garantia de se relacionarem sem enfrentar na pele os riscos de serem atacados ou mortos por causa da homofobia. Não podemos esquecer que mesmo no mundo virtual existem também muitos perigos. Há muitos maníacos homofóbicos e pessoas mal intencionadas que se escondem em certo anonimato que a internet permite, fingem-se de interessados para poder atrair os LGBT para suas armadilhas. Portanto é preciso que os LGBT tenham cuidado para não marcar encontros com pessoas estranhas que eles conheçam apenas pela internet. Muito antes desses encontros, que se acontecerem devem acontecer em um lugares públicos e com grande movimentação de pessoas, mas antes disso a pessoa precisa conversar via telefone e procurar saber um pouco mais sobre a vida da pessoa para não acabar sendo vítima de uma cilada. Claro que nos bares e boates gays o cuidado para não tomar/aceitar bebidas oferecidas por estranhos livra também os LGBT de caírem no famoso “Boa noite cinderela” onde a pessoa é dopada e fica a mercê do agressor.

    Adorei essa parte do seu comentário “O mundo cibernético é muito bom em certos aspectos, mas também é muito triste, pois as pessoas muitas vezes ou montam imagens perfeitas de si mesmos (coisa que não existe, pois todos temos defeitos) ou fogem de uma realidade brutal que não as aceita do jeito que são.”

    Abração!!! Obrigado por mais esse comentário muito pertinente!!!

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